domingo, 28 de outubro de 2012

FILHA DA LUA



Como uma nota musical, alta, aguda sonora, no meu mais íntimo do meu ser, sinto a vergonha das terras manchadas de sangue indígena, das árvores cortadas, das espécies perdidas, das águas desperdiçadas, da vida injusta e perdida de tanta gente que nasce sem ter o que comer ou beber. Tenho vergonha de pertencer a um tempo em que valores como a vida, seja ela de um ser humano ou animal ou vegetal, nada valem, são números, são estatísticas, tão-somente, que ninguém destas pessoas que se consideram donas do mundo e inteligentes, as veem como gente, simplesmente. Como uma valsa, rodopio na sala que é este planeta, num frenesim louco a tentar encontrar não o esplendor e auge de uma noite, mas o compasso de alguém que me escute e me ouça, que me acompanhe ao balcão só para a sentir respirar, a ela! Sinto na cara a brisa a bater-me de leve, despenteia-me os cabelos e eu ouço, a Mãe Terra, bem dentro de mim, agarro na mão do meu alguém, para que também ele a sinta através do meu peito. De repente por magia, a noite ilumina-se e o céu fica como uma enorme tela, dos meus olhos escorrem-me lágrimas ao ver as imagens do nosso planeta, animais livres acorrer nas savanas, florestas inteiras cheias de vida, os mares cheios de cor. O meu coração acelera, parece que tudo voltou ao que era, intocável, tola que eu sou… Assusto-me com a mudança brusca de cena, um mundo à beira de se perder e ninguém quer saber! Imagens atrozes, estas que agora passam, e que mais? Todo o mundo as vê a toda a hora, são banais! Diz-me o alguém que está comigo, retirando a mão do meu peito, não estou interessado, isto que me mostras está fora de moda, ultrapassado. Agora tomamos conta do nosso planeta, poluímos? E depois? compramos créditos de carbono. Precisamos de limpar a nossa imagem? Compramos rótulos de sustentabilidade. Fico só no balcão, o alguém volta para dentro da sala, onde a valsa que se dança, não é a minha. É a valsa dos dias de hoje, a valsa do dinheiro, que tudo compra, corrompe, ludibria. Tomo a decisão de não voltar a entrar, só danço ao som de música que me faça sentir bem, viva, útil, plena e em comum com tudo o que me rodeia. Decididamente este tipo de valsa não é para mim, talvez por isso amo tanto o som da harpa e violino, ao modo antigo sabem? Descalço-me entro da floresta, dispo-me e deito-me na relva e colmo, debaixo de um frondoso carvalho. Pirilampos dançam à minha volta, rodopiando, valsando com as fadas. Uns espreitam daqui, outros dali, os elementais vão aparecendo, querendo saber das novidades lá do baile dos humanos no grande salão. Conto-lhes tudo desfeita em lágrimas, digo-lhes que lhes mostrei a magia na nossa Mãe, que iluminou a céu, e contei-lhes também do meu falhanço, sinto-me vazia, eu prometi ao menos que alguém me ouviria! E fracassei…

Olho à minha volta e estou rodeada do povo das fadas, de anjos, de seres de luz, de mestres. Não te preocupes, não fracassas-te nem tudo está perdido, pois tu acreditas e estás aqui! Conheces-nos e nós a ti, vês-nos e nós a ti, ouves-nos e nós a ti! Foi então que uma coruja me secou as lágrimas e um lírio me enfeitou o cabelo. Ouvi chamar era a minha mãe, a Lua, corri para os seus braços para ela me confortar como só ela sabe. Pedi-lhe desculpas: minha mãe, não consegui, disse eu entre soluços e respiração ofegante. Então a Lua minha mãe, passou a mão pelos meus cabelos e disse-me: “olha agora bem para mim. Vê o que te quero mostrar”. Nesse instante a minha boca abriu-se de espanto, no corpo celeste da minha mãe, as imagens eram tantas, mas tantas! Percebi finalmente o que todos eles tentaram-me dizer este tempo todo, eu não fracassei, eu não fracassei! Desatei aos gritos pela floresta. Obrigada minha mãe, agora percebi que não estou sozinha, tantas, mas tantas como eu espalhadas pelo mundo afora, que também pensam que fracassaram. Tantas iguais a mim, que alegria, abraçei-os a todos, com amor e compaixão.

Foi então que a minha mãe Lua falou e disse: “Vós sois muitos, pertencentes à mesma espécie, mas nem todos são iguais, a natureza é sábia, tudo tem que ter equilíbrio no mundo. Existe o certo e o errado, o que está em cima e o que está em baixo, o dentro e o fora, o cheio e o vazio, a alegria e a tristeza. Para existir dor, também tem de haver saúde, para existir o bem, também tem de haver o mal, o yin e o yan. Vocês só têm de se juntar para formar um grande exército de Paz, de Luz branca, de compaixão e de amor incondicional. Nunca lutarás com armas, as tuas armas serão as tuas mãos, para que trates dos teus inimigos, para que lhes cures as maleitas e dores, o teu dom será amá-los como teus irmãos, ampará-los na queda mostrando-lhes o chão onde caem, pois eles não o conhecem, nunca o olham, não sabem que existe. Cabe-te a ti e ao teu exército mostrar a compaixão, que vos arma e vos une, nesta causa tão grande e digna, de salvar a nossa casa, a nossa terra. Prostrem-se em agradecimento e mostrem-lhes como o devem de fazer, para que aprendam convosco. A nossa luta será a deles, dos agora nossos inimigos, inimigos do planeta, porque estão cegos e não vos vêm, estão surdos e não vos ouvem, estão mudos e não vos falam! Acreditem, tenham fé em vós mesmos guerreiros solitários espalhados pelo mundo, quando se juntarem e formarem juntos o tão desejado exército da compaixão serão muitos e vencerão!”

Assim falou a minha mãe Lua e a Deusa apareceu nessa noite e disse:
“Que assim seja, que assim se faça!”
MIA PÚRPURA

MUITA LUZ!

Imagem retirada da net, desconheço o autor. O texto é da minha autoria.


16 comentários:

  1. Que lindo texto amiga!!!
    Parabéns!!!!
    Beijos mil

    Obs: hoje é segunda, meu cérebro não funciona direito....

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    1. Obrigada Wilson. Não faz mal, os meus neurónios, nunca funcionam de manhã eheheh.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  2. Obrigado por sua visita ao meu blog.

    Seu texto me emocionou e conforme ia lendo ia observando tudo que acontecia, como se estivesse presente na floresta.

    Voltarei outras vezes, pois gostei muito daqui.
    Tenha uma bela semana.
    Élys.

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    1. Olá Elys, obrigada eu por retribuir a visita. É um prazer tê-lo aqui no meu cantinho, como foi e será sempre um prazer visitá-lo.
      Uma linda semana também para você.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  3. Olá!Boa tarde!
    Ana...tudo bem?
    ...belo texto reflexivo....vendo a nossa sociedade contemporânea podemos comungar com a ideia de que os valores humanos estão se esvaziando. É se acostumar com as atrocidades que nos cercam, é preciso se acostumar com o absurdo, que para tudo há um jeitinho, que o erro é sempre do outro, que a natureza só existe para nos servir.., o desrespeito pelos diferentes... Muitos valores estão em falta.... só formando um grande exército de Paz, de Luz branca, de compaixão e de amor incondicional...que podemos ter alguma esperança...
    Obrigado pelo carinho da visita!
    Ótimo inicio de semana!Bençãos infinitas!
    Beijos

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    1. Olá Felisberto, todos nós formamos um enorme exército de Paz e Compaixão, basta querer. Desejos de um amaravilhosa semana para você.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  4. Que encanto,Mia!!Adorei teu comentário lá e vim te ver! E, chego aqui todos esse mundo de elementais ,maravilhoso, lindas palavras e reflexões. Que assim seja mesmo!! Adorei! beijos,chica

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    1. Chica, mas que bom receber a sua visita, obrigada pelas suas amáveis palavras. Seja muito bem vinda, aqui neste meu cantinho.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  5. Ana,que belo texto!Ainda temos muita gente boa nesse mundo que luta pela preservação da natureza, da paz e da fantasia e vc é uma dessas fadinhas especiais!bjs e boa semana!

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    1. Anne, bondade a sua, eu só às vezes deixo-me empolgar pelas palavras, deixo-as sair pela alma e o resultado é esse, eheheh.
      Você também é uma pessoa mesmo muito especial Anne.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  6. Caríssima Mia: penso que a consciência do ser humano é lerda para se formar por isso é necessário que pessoas como você esteja sempre atenta para escrever e mostrar os caminhos e os valores... a natureza precisa de nossa amizade e dos nossos escritos, sempre, em todas as redes sociais... parabéns pelas palavras ... vamos aumentar o exercito da Paz e gerar ainda mais a luz branca! Que felicidade Ana Maria em ler seu comentário lá na Agenda Cultural Piraciabana... você uma amante do livro... livros pra lá de interessantes você comprou hoje, neste Dia Nacional do Livro. aqui no Brasil. "O Mundo de Sofia" trabalhei com meus alunos de Filosofia, Redação. Parabéns pelas escolhas.Abraços Poéticos desta CaipiracicabANA Marly de Oliveira Jacobino

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    1. Olá Ana Marly, obrigada pela sua visita e pelas suas lindas palavras. Adoro o seu cantinho, e claro está sou apaixonada por livros, quem sabe um dia eu faço aí uma visita?
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  7. Hola Ana Maria, me ha gustado mucho tu escrito sobre la madre tierra y lamentándolo es cierto que la cosa esta muy mal. Ahora mismo lo que esta pasando en nuestro planeta, el huracán Sandy que esta destrozando todo por donde va, es una pena.
    Un Abrazo y Feliz Halloween.

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    1. Olá ARCOIRIS, obrigada pelas suas palavras, tem razão é mesmo triste o que está a acontecer nos EUA com o furacão Sandy. Mais uma das consequências do abuso dos humanos.
      Beijinhos de Luz!
      Ana Maria

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  8. Amiga linda que texto primoroso, que a Deusa continue te dando sensibilidade para conseguir fazer cada vez mais texto, como esse, profundo e cheio de inteligência.
    Abençoada seja sempre.
    Beijinhos de castanhas.
    Lua.

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    1. Amada Lua, só escrevi com a alma e o coração e deixei-me ir, como você faz às vezes quando escreve coisas tão lindas e como a Sol, que como você diz tem o dom da palavra. A Deusa foi gentil connosco, não é mesmo?
      Beijinhos de Gnomos!
      Ana Maria

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