sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

REZAS; BENZEDURAS E LADAÍNHAS POPULARES


Desde tempos imemoriais que as plantas e as ervas possuem virtudes e propriedades muito importantes para o ser humano. Outrora consideradas como filhas da Divina Mãe, foram sendo popularizadas através do culto do sagrado, ao qual só alguns tinham acesso aos seus atributos mágicos. Desenvolveu-se deste modo as crendices populares, esconjuros, ensalmos, as fórmulas para atalhar ou as mézinhas para curar praticadas pelas chamadas “mulheres de virtude”, “benzedeiras” ou “talhadeiras”. Eram praticadas também pelos feiticeiros, mas mais raramente. As plantas e a sua preparação, bem como a sua aplicação era acompanhada por vezes por ladaínhas ou rezas. As rezas e as benzeduras eram utilizadas para curar doenças e afastar todo o tipo de males, constituindo assim parte da “medicina popular”. Existem na nossa cultura popular rezas para conseguir dormir, para arranjar casamento, para ser feliz ou não faltar dinheiro. Bem como existem um sem números de benzeduras para quase tudo como, tirar o quebranto, o cobreiro, o sapão ou a espinhela caída entre outros. Tudo isto foi passado oralmente de gerações para gerações, razão pela qual por vezes existe diferença nas rezas e benzeduras, dependendo do local onde se encontra. No sentido de recuperar estes valores tão preciosos e de buscar bem lá no fundo as raízes da nossa cultura, vou fazendo aqui uma espécie de colectânea, de apanhado de tudo o que eu conseguir encontrar pelo nosso país fora, de maneira a que no tempo não se perca a nossa identidade ligada à Mãe Natureza.

REZA PARA PROTEGER DAS TROVOADAS 

Quando nosso Senhor pelo mundo andou em São Bartolomeu poisou,
quatro cantos tinha a casa e quatro tojos se acendiam.
Nosso Senhor disse-lhe:
“Santo António onde vais? Na terra ficarás e as coisas perdidas acharás,
São Tiago de Galiza quer em casa quer em malhada,
onde esta oração for nomeada
nem cairá raio nem peste ruím,
nem boca do fogo fará mal.
São Geraldo, Santa Bárbara bendita,
No céu esteja escrita, papeis e água bendita
Deus nos livre desta tormenta.

Beira Baixa - Penha Garcia / Raia

REZA CONTRA OS COBRÕES

Os Cobrões são borbulhas que começam por se formar em linha e que teêm tendência a dar a volta ao corpo, dizem que quando se une a cabeça com o rabo a pessoa que é afectada morre.
Queima-se a palha dos alhos num recipiente e deita-se um fio de azeite na cinza da palha de alho, que se vai mexendo formando deste modo uma pomada.
Com um pano embebido na pomada, vão-se fazendo cruzes onde estão as borbulhas e diz-se a seguinte reza, fazendo sempre o sinal da cruz:

“Em nome de deus te atalho
Se és cobra ou cobrão
Lagarto ou lagartão
Sapo ou sapão
Bicho de má nação
Que fique negro
Como carvão.”

Beira Baixa - Dornelas do Zêzere / Pampilhosa

OUTRA REZA PARA ATALHAR COBRÕES

Para atalhar fazes-se três vezes com as costa de uma faca voltadas para o cobrão ao
mesmo tempo que se diz:
“Aqui te corto cobrão cabeça de abo e coração”.
No início e no fim benzem-se e dizem:
“Em nome do Pai do Filho do Espírito Santo”.
De seguida mistura-se cinza de palha com mel sendo a mistura aplicada sobre as
borbulhas do cobrão. Isto é feito três vezes ao dia.

Beira Baixa - Alcains

MUITA LUZ!

Fontes: Partes do texto extraídas de "Histórias e Superstições na Beira Baixa" de José Carlos Duarte Moura.
Imagem retirada de pesquisa na net, desconheço o autor.

2 comentários:

  1. Rezas, benzeduras, ladainha, está tão impresso em nosso povo. Principalmente os que vivem no campo, e no interior.
    Amei as rezas.
    Tenha um belo final de semana.
    Beijos de luz.
    Lua.

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    Respostas
    1. É isso mesmo amiga Lua, são as nossas raízes.
      Beijinhos de morangos.
      Ana Maria

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