Hoje comemora-se em Portugal o 25 de Abril, dia em que Portugal se libertou da ditadura e fez a revolução dos cravos, dia em que o Povo de ergueu e de pé fez ouvir as suas vozes contra um regime opressor o Estado Novo. Na manhã de 24 de Abril de 1974 um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho, instalou secretamente o seu posto de comando do movimento golpista no Quartel da Pontinha. Às 22:55 começa a ser transmitida a canção de Paulo de Carvalho “E depois do Adeus”, pelos Emissores Associados de Lisboa, este é um sinal combinado pelos golpistas e que desencadeia a tomada de posições naquela que foi a primeira fase do golpe de estado. O segundo sinal viria por volta das 0h20m quando na Rádio renascença começa a tocar a canção de Zeca Afonso “Grândola Vila Morena” e que vem confirmar e marcar definitivamente o início das operações no terreno pelos Militares das Forças Armadas - MFA. Foi um movimento de jovens capitães de Abril, que rápidamente se transformou numa revolução de Liberdade, sem derramar sangue nas ruas, pacificamente.
Foi Celeste Caeiro que distribuiu aos soldados cravos vermelhos, que estes colocaram no cano das suas espingardas, daí ser conhecida pela Revolução dos Cravos, pois não houve derramamento de sangue, como em tantas outras revoluções. Na foto em cima pode-se ver o Capitão Salgueiro Maia.
Eu vivi durante a época da ditadura, tinha 8 anos
quando se deu a revolução do 25 de Abril. Lembro-me de que não se podia falar
livremente nas ruas, as pessoas não se podiam juntar para conversar, pois isso
era considerado como um atentado contra o regime. Lembro-me de em minha casa se
falar baixinho, porque por cima de nós morava um informador da PIDE (Policia
Internacional e de Defesa do Estado), de o meu pai ter sido levado por eles
algumas vezes, acusado de possuir manifestos contra o regime em nossa casa e de
revoltarem e espalharem tudo pelo chão, espisoteando tudo à sua saída na
frustração de nada encontrarem. Lembro-me de na escola primária cantarmos a
Portuguesa e de estar separada dos meninos, uma parte da escola era masculina e a outra feminina, nós não nos cruzávamos, nem brincávamos juntos no recreio. Não existia
a coca-cola, hambúrgueres, o bacalhau era a comida dos pobres, e não havia produtos
vindos do estrangeiro. Lembro-me perfeitamente de existir a censura, não sabia
na altura o que isso era, mas nas cartas que chegavam da minha família que
estava no Alentejo nas Galveias, vinham todas riscadas a vermelho, a minha mãe
lia “Censurado”, mal se conseguia perceber as novidades e o teor das cartas. As
mulheres não tinham os mesmos direitos dos homens. Emigrar era uma missão impossível
durante a ditadura, ia-se a “salto” na calada da noite e passava-se a
fronteira, com a ajuda dos que conheciam as “raias” tão bem como as palmas das
suas mãos, por entre caminhos sinuosos e acidentados, com malas de cartão
apertadas contra o peito cheias de esperança de uma vida melhor e vazias de nada, para destinos
como França, mas onde a realidade se revelaria também ela traiçoeira e muitas
destas pessoas iriam viver em condições sub-humanas e exploradas. Lembro-me de
existirem crianças sem pai, porque eram filhos de pai incógnito, a lei permitia
isso.
Hoje olho para trás e vejo que passados 42 anos da
Revolução de Abril, muito se perdeu e não se cumpriu. Como muito se evoluiu e
melhorou. É como se a Revolução do 25 de Abril fosse um pau de dois bicos, uma
moeda de duas caras, ou as duas coisas juntas. Temos o antes, o depois e o actualmente. O que melhorou no
depois? Bem, passou a existir segurança social e a saúde melhorou bastante, as
Artes puderam crescer e expandir-se em toda a sua magnitude, passamos a poder
ir a um teatro, um cinema. A escola que era só obrigatória até à 4ª classe,
evoluiu muito e permitiu novas hipóteses de emprego e acesso a universidades,
no geral sem dúvida que as condições de vida melhoraram. No entanto e porque
nunca a liberdade de cada um nunca se deve de sobrepor à liberdade dos outros é
aqui que começa sem dúvida a regressão na condição de vida dos Portugueses no
actualmente. Se na ditadura tínhamos de falar baixinho porque a PIDE podia
ouvir pois tinha informadores em todos os lados, hoje podemos ter os nossos
telefones sob escuta e as nossas contas bancárias conhecidas com ordem do
próprio Estado Português e nem sabemos. No Antigo Regime Salazar e Marcelo
Caetano, eram os fascistas que nos oprimiam com a ditadura e nos exploravam,
hoje os nossos opressores são os bancos, pagamos dívidas que nós o povo não contraímos, para os sustentar e ajudar à sua vida de luxo com as suas contas
offshore e Panamá. Não sou filiada em nenhum partido político, porque creio que
quem faz política deveria de a fazer por gostar da política e não de um salário
escandaloso e de uma reforma antecipada milionária. Não sou saudosista “dos
tempos da outra senhora”, muitas pessoas sofreram na pele coisas que eu nem
sequer posso imaginar durante a ditadura e é por respeito a todas essas pessoas
torturadas e sonegadas dos seus direitos como seres humanos livres que eu hoje celebro
com muito orgulho o 25 de Abril e a Revolução. As mudanças foram boas, mas não posso deixar
de pensar que ainda e cada vez mais
existem crianças a desmaiar na escola porque os pais não tem comida em casa
para lhes dar o pequeno almoço, os idosos não tem dinheiro para comprar
medicamentos que lhes fazem falta e que por vezes lhes custam a própria vida,
depois de terem trabalhado e contribuído para o sistema social toda a sua vida a nada têm
direito. E que depois de tudo o que se lutou para a igualdade não me esqueço da
frase: “A Terra a quem a trabalha”, ainda e infelizmente cada vez mais existem
pessoas que como eu que pagam os seus impostos e que trabalham todos os dias em
condições precárias, exploradas e humilhadas pelos patrões que cada vez
enriquecem mais à nossa custa, à custa do que nos roubam, dos ordenados
miseráveis que nos pagam e dos anos que nos sugam a viver constantemente nesta realidade.
E a realidade é que os ricos estão cada vez mais ricos e os pobres cada vez
mais pobres. Temos direito pela nossa Constituição a uma vida digna em
liberdade e que nos permita garantir e assegurar o bem-estar das nossas
famílias. Que me perdoem os mais letrados e conhecedores dos meandros da
política, a minha insubordinação e revolta, mas enquanto a realidade do nosso
País continuar a ignorar os direitos que nos estão consagrados na nossa
Constituição e insistirem em que qualquer dia destes ainda temos de pagar para
trabalhar para Patrões chupistas que distribuem entre si, o lucro da miséria do
povo, nunca existirá uma verdadeira democracia. Nem aqui nem em nenhum lugar no
mundo!
Como disse Jorge de Sena: “Não hei-de Morrer sem
Conhecer a Côr da Liberdade”.
AnaMaria
MUITA LUZ!
CONSTITUIÇÃO
PORTUGUESA
Artigo 9.º
Tarefas fundamentais do Estado
Tarefas fundamentais do Estado
São tarefas fundamentais do Estado:
a) Garantir a independência nacional e
criar as condições políticas, económicas, sociais e culturais que a promovam;
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.
b) Garantir os direitos e liberdades fundamentais e o respeito pelos princípios do Estado de direito democrático;
c) Defender a democracia política, assegurar e incentivar a participação democrática dos cidadãos na resolução dos problemas nacionais;
d) Promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo e a igualdade real entre os portugueses, bem como a efectivação dos direitos económicos, sociais, culturais e ambientais, mediante a transformação e modernização das estruturas económicas e sociais;
e) Proteger e valorizar o património cultural do povo português, defender a natureza e o ambiente, preservar os recursos naturais e assegurar um correcto ordenamento do território;
f) Assegurar o ensino e a valorização permanente, defender o uso e promover a difusão internacional da língua portuguesa;
g) Promover o desenvolvimento harmonioso de todo o território nacional, tendo em conta, designadamente, o carácter ultraperiférico dos arquipélagos dos Açores e da Madeira;
h) Promover a igualdade entre homens e mulheres.
Precisamos sempre ter esperança e acreditar que um dia todas as nações verão seus povos vivendo feliz e em paz e que a Terra seja um planeta onde a fraternidade seja o seu traço de união.
ResponderEliminarTenha uma linda semana.
Élys.