Jiuzhaigou significa “Vale das Nove Aldeias” porque neste sitio existiram em tempos mesmo nove povoações, actualmente é mais um aglomerado de 80 hotéis, todos concentrados no mesmo local, um vale em forma de “Y” com cerca de 30 km localizado nas Montanhas MIN, na região central da China. É neste espaço que 280 autocarros aguardam a sua vez para poderem transportar os 18 mil turistas diários, pela magnífica estrada acima, passeando ao longo de uma cadeia de lagos e de cascatas estreitas, sob escarpas tortuosas cheias de florestas de Bambú e de Áceres ou Espruces. Os glaciares escavaram os dois vales que se reúnem ao vale de Shuzheng, designados por Zechawa e Rize, cujo ponto mais alto se localiza a 3 mil metros de altitude. As falésias desencorajam escaladas fortuitas, mas não conseguem distrair a vista dos visitantes da deslumbrante beleza calcária que das humildes vias fluviais que deslizam por baixo. A geologia desta zona do Planalto do Tibete, é modelada por antigos fundos marinhos, sendo que a dissolução dos seus calcários dá por isso uma cor verde-esmeralda ou mesmo azul-turqueza a uma certa luz, e noutras ocasiões aumenta o efeito de espelho do céu cor de anil.
Em Jiuzhaigou, neste pequeno mas encantador complexo de lagos cromáticos em vales rasgados pela sovela dos glaciares, já quase não existem os pandas que outrora aqui prosperavam, são actualmente aclamados pelo governo como um “tesouro nacional”, mas estes animais foram deslocados maciçamente pelo furor dos madeireiros e pela extinção do bambú durante as últimas décadas do séc.xx.
Só muito recentemente é que a República Popular da China, proibiu que fossem servidos petiscos tais como, patas de ursos nos banquetes de estado, foi mais ou menos na mesma altura em que S.S. Dalai Lama, no exílio na Índia, incentivou os seus seguidores a deixar de vestir peles de tigre e de leopardo. No entanto nenhuma ética de conservação se gera na República Popular da China, por decreto. O chefe da equipa de cientistas de Jiuzhaigou, afirma que ainda hoje é possível encontrar peles de leopardo-das-neves à venda, sem ocultação na cidade vizinha de Songpan, por cerca de 75 euros, o equivalente a um salário de um mês para um operário.
De alguma forma não é possível deixar de lamentar que seja preciso transportar até aqui milhões de pessoas, para verem este pequeno paraíso de águas prístinas e esplendorosas, onde as aves de penugem colorida esvoaçam pelos ares ao sabor da brisa suave das montanhas, sob o imenso céu do Planalto do Tibete, para fortalecer uma política nacional, destinada a tentar salvar algo, antes que desapareça por completo. Mas como será possível organizar milhões de pessoas numa fila, para poderem apreciar a paisagem bravia sem a destruírem? Poderiam ser preservados se a República Popular da China, declarasse os lagos sinuosos e as cascatas deste vale como símbolos imperiais das dinastias esquecidas na Cidade Proibida de Pequim, em vez de serem aproveitados para o turismo e como fonte de receitas.
Convém lembrar que o Vale de Jiuzhaigou, é considerado um Património Mundial da UNESCO na China. Não só pela sua enorme variedade de ecossistemas de florestas bem diversos, como também pelas cerca de 140 espécies de pássaros que habitam o vale, muitas variedades de plantas e espécies de animais, que se encontram em vias de extinção. Como é o caso do Panda Gigante e do Takin de Sichuan (Burdocas taxicolor) um capríneo do leste dos Himalaias, entre outros.
Se nos considerarmos superiores a todas as outras formas de vida, mostrando que somos capazes de prescindir delas, se ninguém liga aos poucos peixes que restam sem ser em lagoas de aquicultura, às cristas montanhosas sem turbinas eólicas nos cumes, aos campos nevados ou às cotovias-dos-prados, então as poucas pessoas que ligam mesmo e que querem descansar da confusão urbana, poderão ver-se forçados a comprar filmes de vida selvagem para verem nos seus ecrãs.
É de lamentar que tal como os felinos são presença obrigatória nos jardins zoológicos o mesmo acontecerá a muitas outras espécies como o Panda Gigante, que será criado em cativeiro depois que as árvores de que se alimentam desaparecerem,
à semelhança das réplicas dos Mosteiros Tibetanos, com fachadas correctamente reproduzidas, mas infelizmente sem Monges no seu interior.
Ensaio de Edward Hoagland “Rumo ao Paraíso Industrializado”,
publicado na National Geographic de Março de 2009.
MUITA LUZ!
Todas as imagens foram retiradas de pesquisa na net,
desconheço os seus autores.
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