Amélia era uma menina muito simpática. Na aldeia
onde morava todos gostavam muito dela, porque estava sempre disposta a ajudar
quem necessitasse, levava os sacos das mulheres que vinham do mercado, guardava
segredos e todas as tardes ia a casa de Dona Beatriz contar-lhe uma história. A
pobrezinha estava muito velhinha e quase não via, por isso a Amélia
entretinha-a a ler-lhe histórias.
Um dia, a mãe de Amélia não conseguiu levantar-se da
cama. O médico pediu-lhe para deitar a língua de fora, tomou-lhe o pulso,
pôs-lhe o termómetro e acabou por lhe receitar umas vitaminas que não fizeram
nada. E o caso era preocupante, porque a cada dia que passava a mulher ia
ficando com pior aspecto. Amélia e o pai estavam muito preocupados, de tal modo
que até a levaram ao hospital onde lhe fizeram muitos exames, utilizando todos
aqueles aparelhos que são tão esquisitos que até nos assustam um pouco, mas
nada, nenhum médico descobria o que se passava com a mãe da Amélia.
A menina foi visitar a Dona Beatriz e contou-lhe o
que se passava com a sua mãe, para ver se a anciã que tinha vivido muito a
podia ajudar.
- Eu não te posso ajudar, querida, mas pede ajuda
aos gnomos.
- Aos gnomos? Mas gnomos não existem no mundo real,
só nas histórias, Dona Beatriz!
- Há muitas coisas neste mundo real, como tu lhe
chamas, que não conseguem ser vistas com os olhos. É preciso olhá-las com a
imaginação e imaginação não te falta – continuou a velhinha – as tuas histórias
são tão bonitas que até parece que os gnomos vêm sentar-se no parapeito da minha
janela para te escutarem. Não há nada de que gostem mais do que uma história
bem contada!
- Mas… - a menina não queria acreditar no que ouvia.
- Experimenta. Olha para a janela do canto do olho e
pensa que os vais ver. No princípio parece difícil, mas depois…
Amélia seguiu o conselho de Dona Beatriz… E nada.
Quando estava quase a desistir pareceu-lhe ver um movimento.
- Estás a vê-los? – Perguntou a Dona Beatriz – estás
a vê-los?
Realmente estava a vê-los. Sobre o parapeito da
janela estavam quatro homenzinhos muito pequenos, que lhe acenavam. Amélia
apresentou-se e contou-lhes o que se passava. O Rei dos gnomos, que era um dos
que costumavam ir ouvi-la, disse-lhe:
- Espera aí, eu já volto. Vou ver a tua mãe.
E desapareceu. Pouco tempo depois, quando voltou a
aparecer, olhou para a Amélia com um ar preocupado:
- A tua mãe tem uma ferida muito pequena no pé
direito. Deve de ter pisado um objecto pertencente a um dos duendes travessos,
um objecto maligno infectado e por isso a ferida está a consumi-la.
- E não se pode fazer nada? – Perguntou a menina.
- A tua mãe só se salvará se lhe lavares a ferida
com Água da Fonte da Saúde. Mas a fonte pertence a esses duendes malvados, uma
espécie de pequenos trols tão maus como os seus irmãos mais velhos…
- Tenho de conseguir um pouco dessa água! –
Interrompeu a menina.
- … E o pior é que essa água só pode ser
transportada na taça de Olgum, um recipiente mágico que também se encontra em
poder desse povo. E não pode ser derramada só uma gota! – Terminou o gnomo. –
Deixa-me pensar no assunto e amanhã digo-te se encontrei alguma solução.
No dia seguinte, a menina chegou a casa de Dona
Beatriz muito mais cedo do que habitual.
- Falei com o meu povo e decidimos ajudar-te –
comunicou-lhe o Rei. – Mas tens de nos prometer que vais continuar a contar-nos
histórias tão belas como a que acabaste de nos contar.
- Claro! – Respondeu Amélia – Que devo fazer?
Os gnomos acompanharam a menina à aldeia dos
duendes. O Rei disse-lhe que esperasse escondida, atrás de uma grande rocha.
Então os gnomos aproximaram-se dos duendes e estes furiosos começaram a
persegui-los, foi nessa altura que a Amélia aproveitou e entrou num casebre
onde estava guardada a tala de Olgum, para a encher de água na Fonte da Saúde e
sair a correr.
Os gnomos desorientaram os duendes, transformando-se
em cogumelos, pedras e outras coisas do bosque. Os duendes muito aborrecidos
não tiveram outro remédio senão voltar para casa.
Amélia por seu lado, teve o bom senso de tapar a
boca da Taça de Olgum, para não entornar nem uma gota da água milagrosa… O que
foi bastante difícil, pois a taça (que tinha muito mau feitio) tentou
morder-lhe um dedo. No entanto conseguiu mantê-la tapada, colocando-lhe por
cima a palma da mão muito aberta, enquanto corria.
Finalmente, chegou a sua casa com a água da Fonte da
Saúde e a primeira coisa que fez foi lavar cuidadosamente a ferida da mãe. De
imediato ela começou a ganhar cor e, em poucos dias, recuperou por completo,
para grande alegria da Amélia e do seu pai.
A menina cumpriu a promessa que fizera ao Rei dos
gnomos, e todas as tardes, voltava a casa de Dona Beatriz, para contar as suas
histórias a ela e à multidão de gnomos que se sentavam no parapeito da janela.
Texto extraído do livro:
O Bosque Encantado – “A Lenda
Dos Gnomos” de Fernando Martínez.
MUITA LUZ!